segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Escandindo Tarantino

Por Enderson Nobre*


Poucos cineastas na atualidade dividem tantas opiniões quanto Tarantino, amado e odiado na mesma proporção. Tarantino vem gerando polêmicas no decorrer de sua carreira. Uma delas, talvez a mais notória, a acusação de racismo feita pelo cineasta americano Spike Lee, na qual o critica pelo uso do termo “Nigger”, uma expressão racista dita por vários personagens no filme “Jackie Brown”, o terceiro da carreira de Tarantino. Recentemente, pouco antes do lançamento de seu novo filme Django Livre, o diretor foi novamente alvo das críticas de Spike Lee, que desta vez não gostou de ver o tema da escravidão nos Estados Unidos servindo como base para Django. Lee teria dito que a escravidão foi um holocausto e não deveria ter sido tratada como um western do Sergio Leone. Como se vê, Quentin Tarantino está longe de ser uma unanimidade. 

Desde Cães de Aluguel, o cineasta americano vem agradando a critica e arregimentando fãs pelo mundo afora, também gerando polêmica no que diz respeito às famosas e inúmeras “homenagens” que faz nos seus filmes para diretores e clássicos do cinema “B”. Esta característica de “reciclar” produções esquecidas, obscuras e até menosprezadas pelos críticos mais conservadores, fizeram a fama de Tarantino ao mesmo tempo em que gera argumentos para acusar o diretor de falta de originalidade, de ser formuláico e redundante. Acusações a parte, é inegável que o diretor vem, a meu ver, passando por um período de decadência, entregando filmes cheios de referências cinéfilas e pop, que no mais são produções vazias que cumprem apenas o propósito de puro entretenimento, sem apresentar o vigor de seus primeiros trabalhos. No entanto, Tarantino é um cineasta experiente e talentoso que sabe muito bem dar o que seu público espera: longos diálogos, violência de gibi, trilha sonora pop e, principalmente, as famosas referencias aos clássicos B, garantindo a diversão dos fãs de cinema, que ficam esperando por uma cena onde possam encontrar um ator, um figurino ou uma citação referente a alguma obra obscura de algum país da Europa ou do Japão. 

Em Django Livre, a situação não é diferente. Tarantino usa além do nome Django, do icônico personagem interpretado por Franco Nero (que faz uma aparição em seu filme) na película de 1966 realizada por Sergio Corbucci; usa também a música tema do filme original na abertura de seu novo longa. As inúmeras referências ao cinema de Drive - in, blacksploitation e spaghetti westerns estão lá, junto com a famosa verborragia do diretor. É pertinente ressaltar que “Django Livre”, não é uma refilmagem, e sim um liquidificador de cultura pop como o diretor vem fazendo ao longo de sua carreira e que, fatalmente, encontrou seu público. 

Li há algum tempo atrás uma entrevista com Tarantino, em que ele como diretor criticava Woody Allen por fazer sempre o mesmo filme; com o passar do tempo, ele caiu na mesma armadilha, vem se repetindo filme após filme, e ganhando cada vez mais dinheiro com isso.


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Enderson Nobre é cientista social formado pela Universidade Federal de Alagoas e cinéfilo.

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